Do outro lado, perdido naquela avenida larga e movimentada, sem perceber que as cartas que recebia e correspondia eram de amor, ele caminhava intuitivamente em direção à esquina, sentindo que algo estava por vir. Durante o caminho fazia longas paradas e se entretinha com aquelas belezas que passam desapercebidas aos apressados, cenas aparentemente corriqueiras e sem importância para os que lançam um olhar comum. O tempo que passava com elas não era daquele que se mede nos relógios, era o tempo de Kairos, do momento oportuno. Quando ele pressentia que estava na hora de seguir, punha-se a caminhar novamente, estrangeiro, sem território, sem raízes, sem vestígios de qualquer coisa que lhe parecesse familiar. Essa inquietude o inebriava de possibilidades, mas trazia, ao mesmo tempo, uma insegurança que o impelia a tentar reconhecer algum traço na paisagem, como se quisesse encontrar um lugar, descobrir certo pertencimento. Por vezes ele acreditava ter alcançado o que lhe faltava, mas logo percebia que a inquietude e a intuição continuavam a guiá-lo para a esquina que, longe e perto, sobrevivia a Chronos para acalentar o tempo propício de um encontro. Enquanto isso, em outra parte da cidade, junto com as cartas, multiplicava-se o amor.
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