sábado, 9 de maio de 2015

Sobre o lúdico I

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Nos últimos tempos tenho me aventurado em outras experimentações poéticas, e mergulhado em uma estética do riso, do lúdico, do corpo brinquedo. Tudo que havia ficado inerte no passado como coisa de menina, tudo que havia sido oprimido pela vida de gente grande, pelo conteudismo  e devotamento a atividades intelectuais,  agora volta fazendo cosquinhas no corpo.

Não calo, é verdade, mas tenho adoração por brinquedos de palavras e ontem estive com Clarice e suas encantarias literárias...

Inundada por esses encontros, essas paixões alegres, cá estou: cirandeira, brincante, poeta, artista, fluida, intensamente feliz, lançando canções no mundo, aprendendo a desinventar o medo do ridículo, a transformar em sorrisos os olhares  desconfiados ou inquisidores.

Nessas minhas aventuras e mergulhos fiz uma grande descoberta: brincar é tão fundamental para a transformação do mundo quanto qualquer militância e luta. É um genuíno exercício de liberdade e de invento, que escorrega a qualquer captura. 
Hoje não creio mais em nenhuma revolução, mesmo as cotidianas, que não passe pelo brincar.

"Como pode um peixe vivo
Viver fora da água fria
Como pode um peixe vivo
Viver fora da água fria" 

quarta-feira, 5 de março de 2014

Para andar contigo

Baby
Cadê você?
Venha me buscar
Para dar aquela volta ao mundo
Só nós dois
Tudo mais
Pode ficar para depois
Vamos fazer da vida
O nosso road movie
Nosso bungee jumping
Nosso palco mundi


Baby
Eu sei como são as coisas
E você também
Não há lugar seguro
Mas meu colo
Será sempre um templo, um porto
Um lugar 
Para te guardar
De todas as dores
Que seja possível calar

Baby, baby, baby
Nós temos 
Infinitas galáxias
Para amar

Não tenha medo 
Baby
Que eu tô na vida 
Para andar contigo

Baby, baby, baby
Nós temos 
Infinitas galáxias
Para amar

Baby
Não se demore 
Não demore




sábado, 20 de abril de 2013

Energia

Máquinas se movem
corpos

Luzes ascendem
olhos

Correntes
Veias e artérias

Milhões de voltz
na pele

Choque arrepio
pêlos

Entre os dedos
cabelos

Energia em mim
delírios

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Longe e perto

Do outro lado, perdido naquela avenida larga e movimentada, sem perceber que as cartas que recebia e correspondia eram de amor, ele caminhava intuitivamente em direção à esquina, sentindo que algo estava por vir. Durante o caminho fazia longas paradas e se entretinha com aquelas belezas que passam desapercebidas aos apressados, cenas aparentemente corriqueiras e sem importância para os que lançam um olhar comum. O tempo que passava com elas não era daquele que se mede nos relógios, era o tempo de Kairos, do momento oportuno. Quando ele pressentia que estava na hora de seguir, punha-se a caminhar novamente, estrangeiro, sem território, sem raízes, sem vestígios de qualquer coisa que lhe parecesse familiar. Essa inquietude o inebriava de possibilidades, mas trazia, ao mesmo tempo, uma insegurança que o impelia a tentar reconhecer algum traço na paisagem, como se quisesse encontrar um lugar, descobrir certo pertencimento. Por vezes ele acreditava ter alcançado o que lhe faltava, mas logo percebia que a inquietude e a intuição continuavam a guiá-lo para a esquina que, longe e perto, sobrevivia a Chronos para acalentar o tempo propício de um encontro. Enquanto isso, em outra parte da cidade, junto com as cartas, multiplicava-se o amor.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Brinquedos de palavras

Ela não sabia afinal que o que partilhava com ele eram cartas de amor. De um amor que aconteceria quando dobrasse a próxima esquina. Por não saber ela vivia o tempo da espera. Caminhava a passos lentos atenta a qualquer sinal na paisagem, mas se distraia com facilidade e esquecia o percurso. Acabava inventando outros lugares aonde ir e modos de chegar.
O tempo corria e as cartas se multiplicavam, algumas se perdiam, outras nem eram lidas. Ela não recordava mais para que ou quem escrevia, nem o rumo em que os pés a levavam. E a esquina que ela quase dobrou continuava lá... tão perto! Mas o vai e vem, as bicicletas, a chuva, os encontros, sempre atravessavam o caminho.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Se destilar o ódio
Ajudasse
A arrancar raízes
E o grito
A expulsar a flor


Se o ranger de dentes
Não deixasse então
Nenhum pedaço
E o olhar fulminante
Petrificasse qualquer traço


Seria possível então matar a dor?



quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Último Poema



Já que não posso te tocar
Quero te guardar num poema
Como é difícil de mostrar
Dou-te de presente palavras

Com elas podes inventar
Ter ilusões, imaginar
Tecer paixões
Que podem rumos desviar

Para caminhos
Que não se sabe onde vão dar
E a viagem já é um porto de chegar
Pelas águas do tempo
Em barco que já é lugar

Pelo prazer de não saber
De só deixar acontecer
Quero embarcar contigo
Sem direção, correr perigo
Quero embarcar contigo
Quero navegar