sábado, 20 de abril de 2013

Energia

Máquinas se movem
corpos

Luzes ascendem
olhos

Correntes
Veias e artérias

Milhões de voltz
na pele

Choque arrepio
pêlos

Entre os dedos
cabelos

Energia em mim
delírios

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Longe e perto

Do outro lado, perdido naquela avenida larga e movimentada, sem perceber que as cartas que recebia e correspondia eram de amor, ele caminhava intuitivamente em direção à esquina, sentindo que algo estava por vir. Durante o caminho fazia longas paradas e se entretinha com aquelas belezas que passam desapercebidas aos apressados, cenas aparentemente corriqueiras e sem importância para os que lançam um olhar comum. O tempo que passava com elas não era daquele que se mede nos relógios, era o tempo de Kairos, do momento oportuno. Quando ele pressentia que estava na hora de seguir, punha-se a caminhar novamente, estrangeiro, sem território, sem raízes, sem vestígios de qualquer coisa que lhe parecesse familiar. Essa inquietude o inebriava de possibilidades, mas trazia, ao mesmo tempo, uma insegurança que o impelia a tentar reconhecer algum traço na paisagem, como se quisesse encontrar um lugar, descobrir certo pertencimento. Por vezes ele acreditava ter alcançado o que lhe faltava, mas logo percebia que a inquietude e a intuição continuavam a guiá-lo para a esquina que, longe e perto, sobrevivia a Chronos para acalentar o tempo propício de um encontro. Enquanto isso, em outra parte da cidade, junto com as cartas, multiplicava-se o amor.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Brinquedos de palavras

Ela não sabia afinal que o que partilhava com ele eram cartas de amor. De um amor que aconteceria quando dobrasse a próxima esquina. Por não saber ela vivia o tempo da espera. Caminhava a passos lentos atenta a qualquer sinal na paisagem, mas se distraia com facilidade e esquecia o percurso. Acabava inventando outros lugares aonde ir e modos de chegar.
O tempo corria e as cartas se multiplicavam, algumas se perdiam, outras nem eram lidas. Ela não recordava mais para que ou quem escrevia, nem o rumo em que os pés a levavam. E a esquina que ela quase dobrou continuava lá... tão perto! Mas o vai e vem, as bicicletas, a chuva, os encontros, sempre atravessavam o caminho.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Se destilar o ódio
Ajudasse
A arrancar raízes
E o grito
A expulsar a flor


Se o ranger de dentes
Não deixasse então
Nenhum pedaço
E o olhar fulminante
Petrificasse qualquer traço


Seria possível então matar a dor?



quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Último Poema



Já que não posso te tocar
Quero te guardar num poema
Como é difícil de mostrar
Dou-te de presente palavras

Com elas podes inventar
Ter ilusões, imaginar
Tecer paixões
Que podem rumos desviar

Para caminhos
Que não se sabe onde vão dar
E a viagem já é um porto de chegar
Pelas águas do tempo
Em barco que já é lugar

Pelo prazer de não saber
De só deixar acontecer
Quero embarcar contigo
Sem direção, correr perigo
Quero embarcar contigo
Quero navegar

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O que restou


Se queres ferir
E fazer sentir dor
Como se o sofrer
Destruísse o amor

Que não queres sentir
Mas que insiste em voltar
E não deixa esquecer
O que não podes mais viver

É difícil deixar calar ou fingir
E admitir o que perdeu
Dissolveu, dissipou
O calor derreteu
As asas que levaram ao céu

Agora ateu e sem saber
À deriva no mar do acontecer
Lançando ao vento toda a dor
Com flechas de amargura acertou
E enfim as nuvens
Derramam o que restou